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Comunicação institucional no âmbito das corporações jurídicas

Segundo o dicionário, comunicar significa “transmitir; avisar; informar”. Comunicar é o ato de partilhar informações; torna-las comuns entre indivíduos. Essa partilha sempre corre com uma finalidade específica (consciente ou não).

Nos dias atuais, onde os meios de comunicação se tornaram cada vez mais abundantes e ágeis, a ciência / arte da comunicação tem tido importância fundamental tanto na vida do indivíduo quanto no dia a dia dos grupos e empresas.

No tocante específico à comunicação empresarial, estamos lidando com a partilha de ideias, informações e conceitos, dentro de focos bem delimitados – mormente, a missão, visão e valores da empresa.

E, no atual cenário econômico e competitivo, estando as empresas ultra pressionadas por resultados maiores, mais rápidos e mais eficientes, a comunicação empresarial vai absorvendo essa ansiedade por eficácia, sofrendo alterações em sua essência e causando distorções de entendimento.

Toda empresa tem uma noção da sua missão, da sua visão e dos seus valores. Mesmo que tais conceitos não estejam expressamente declarados, eles estão lá, intrínsecos em sua atuação, e presentes em seus produtos, colaboradores e na aparência pública geral.

As pessoas que se unem a uma empresa como colaboradoras, se sujeitam ao trabalho a ser praticado dentro do âmbito da tríade missão/ visão/ valores para a contrapartida da sua remuneração. De forma semelhante, as pessoas que se unem a uma empresa como clientes, também anseiam pela contrapartida dos valores pecuniários pagos espelhados na expectativa que criaram a partir da percepção desta tríade.

O “ruído” ocorre quando a comunicação efetiva (aquela decorrente da prática diária) não reflete tais valores, indo principalmente contra aspectos psíquicos importantes para o receptor ou para a sociedade a que ele pertence. Nesse norte, estamos nos referindo tanto ao conceito de moral e/ou bons costumes, quanto à expectativa de resultados efetivos (apenas alguns exemplos)

É exatamente desse ruído, desse desvirtuamento da forma e do conteúdo da mensagem a ser transmitida pela corporação, que surgem eventos possíveis de serem enquadrados como ilícitos no ambiente de trabalho (e inclusive, dentro outros, o chamado assédio moral) e os que podem gerar insatisfação por resultados entendidos no momento do pacto inicial (e inclusive, dentre outros, as resilições contratuais e seus efeitos).

Cabe aqui, um parêntese importante. Os diversos ramos da ciência que lidam com comunicação concordam que a responsabilidade pela sua efetividade está mais (para não dizer totalmente) com o emissor do que com o receptor. Vale dizer, é sua a obrigação de adaptar a linguagem e o canal utilizados para que a mensagem seja totalmente compreendida pelo seu interlocutor... Jamais o contrário! Ou seja, o representante da corporação, presente no ato do pacto com o colaborador/ cliente, tem que garantir que o mesmo compreendeu exatamente o que se quis transmitir naquele momento. E mais que isso: a prática efetiva futura da corporação tem que refletir e efetivar tais mensagens.

Assim, ao lidar com seus pares, as corporações tem o desafio de comunicar exatamente o que são, independentemente do que desejam aparentar ser! Eventual dicotomia entre estes dois cenários (o que se é, e o que se diz ser) é, como antes dito, foco de grandes transtornos de relacionamentos pessoais, econômicos e (o que talvez seja pior) de demandas judiciais.

No âmbito das corporações jurídicas, esse desafio se torna ainda mais agudizado.

É que, tendo a maior parte dos advogados e juristas (mormente os mais antigos) uma formação de nicho, focada e setorizada na ciência do direito e suas aplicações diretas e práticas, em geral, há um esquecimento em como bem se comunicar com o mercado. E a linguagem do mercado é diametralmente diferente da linguagem dos tribunais... Ainda é frequente, por exemplo, vermos profissionais usarem em seus diálogos com clientes, brocardos latinos como se o mesmo tivesse condições de entender toda a acepção destes termos específicos... E o pior: na maior parte das vezes o interlocutor finge que entende, aumentando o distanciamento entre o que se disse e o que se entendeu!

Assim, o abismo comunicativo entre as corporações jurídicas e o mercado costuma a ser matéria prima para nascedouros de questões a serem dirimidas.

Preste bem atenção em quem você é. Quais são as suas aspirações? Quais são as suas competências e desafios? O que você efetivamente tem e quer ofertar ao mercado? Agora, faça o mesmo exercício de percepção da(s) sua(s) equipe(s) e pares... Enfim, trace o correto perfil da sua corporação jurídica antes de comunicar à sua clientela e ao público potencial quais as suas (reais) noções de missão, visão e valores próprios.

Também é importante que todos os envolvidos estejam alinhados dentro destes parâmetros: assim, além de garantir que a comunicação corporativa está homogênea entre os membros da corporação, você também garante que o tratamento com o mercado será igualitário durante todo histórico de relacionamento(s) comercial(is).

Por fim, destaque-se que as corporações estão sempre a sofrer influências endógenas (reflexo de seus integrantes) e exógenas (ambiente e tempo em que estão inseridas), o que importa dizer que estão sujeitas a mudanças. Em geral as mudanças exógenas não têm o condão de afetar a missão e os valores da corporação, mas podem eventualmente provocar necessidade de adaptação na visão da mesma. Já no tocante as mudanças endógenas, estas podem sim, afetar a tríade como um todo.

De uma forma ou de outra, mantendo-se as premissas importantes para os atores internos e externos que atuam nos cenários de foco, a mudança pode (e por vezes, deve) ocorrer para que a corporação se mantenha viva e atuante. Mas vale efetivar essa mudança de forma cuidadosa, parcimoniosa e com atenção aos anseios envolvidos.

A atenção com a comunicação institucional das corporações jurídicas é de fundamental importância para que as mesmas possam atuar de forma positiva para todos os que com elas se envolvem, e a atenção à mesma deve ser premente e frequente, evitando-se assim, que a mesma se afaste dos melhores talentos à sua disposição e, principalmente, do mercado e clientela realizada ou potencial.

Daniel Melim é Advogado, Coaching e Consultor na DNA Consulting.

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